sábado, 4 de dezembro de 2010

Foi para o meu coração que dirigiste tantas palavras vazias através do olhar. Dentre elas, estava o adeus que nunca demos de forma clara e sincera. Tivemos medo, muito medo. Um receio gostoso de nos perdermos em nossas fantasias, em nossos desejos, em nossas vontades reprimidas. Nos amamos às escuras. Sob as palavras, sob os gestos. Nunca nos fizemos por inteiros, aquela brincadeira de tudo dizer, de sentir apenas. E sentir, e sentir. Sentir. Fomos tão meticulosos e contraditórios. Nossos atos de amor escondidos, nossa paixão escancarada em cenas dignas de filme. Meu choro, teu choro, todas aquelas lágrimas e o medo. O passo para trás, o ponto de onde tudo jamais poderia ter ultrapassado. Era um jogo, tão real quanto as nossas juras, os nossos longos desabafos. Era tudo que tínhamos entre nós. Tudo. E perdemos pela mania de esperar, de sempre se desencontrar. Éramos, e somos, fervorosos imediatistas. Compositores de momentos, colecionadores de vida. Sempre a percepção exata do que queríamos e não fizemos. Não pudemos. Não vivemos. E disso colheremos um preço muito alto, uma dívida que fica e marca, da que nunca se esquece. Pois cada vez que nos cruzarmos, saberemos os segredos um do outro, o que nos aproxima de forma inevitável. Nos faz cúmplices de mentiras e verdades, dos toques na nuca, nos braços, das mãos dadas, dos abraços apertados. Do nosso afeto, enfim. Teu olhar de mulher indecisa, cada vez que traçar o espaço entre os nossos, far-me-á ter essa lembrança, esse fogo queimando por dentro até chegar na vontade de esquecer. De esquecer-te. E eu disse que achava que te amava porque mesmo não sabia, e não sei, não sei.

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