quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Houve uma época, lá no começo de tudo, quando eu ainda era criança, que a vida parecia ser simples demais. Sem preocupações, sem obrigações, sem responsabilidades e com um ciclo social muito pequeno. Eu tinha apenas os meus amigos de sala do colégio e pronto. Fora o pessoal de casa, aquele era o meu universo. Era nesse canto que eu montava minhas certezas e minhas verdades, as quais me traziam segurança e conforto. De repente, eu fui crescendo e, numa proporção bem maior, o meu mundo também. Gradativamente, os meus conceitos foram todos se desfazendo, reduzindo-se a quase nada, até eu me dar conta de que cada fase da vida seria um novo começo. Até aí tudo bem. A parte mais difícil e dolorosa foi descobrir que eu precisaria aprender a dizer adeus, a me despedir da maioria das pessoas que fizeram parte do ciclo anterior. Pessoas que, no mais das vezes, eu havia aprendido a amar e a respeitar as diferenças. Pessoas que me faziam feliz pelos mais diversos motivos. Pessoas que não eram como um brinquedo velho pelo qual se perde o interesse com o tempo, porque pessoas não são coisas. São pessoas. Então aprendi que nada se mantém eterno, que tudo vai e vem na velocidade dos relógios, mudando-se o sentido e a direção da(s) vida(s). A partir daí, eu passei a enxergar as pessoas como momentos. Pensei: já que nada é pra sempre, que ao menos cada momento fosse (e seja) o conjunto de sentimentos, de cores, de palavras, de gestos e de troca mútua capaz de se incorporar, de alguma forma, em definitivo, em meu coração - porque a mente é traiçoeira demais. Inexoravelmente, todos se despedem em determinados segmentos do tempo, é apenas uma questão de tempo. E mesmo a despeito de ser triste, é algo natural. Então, preferi acreditar que cada momento bonito vivido (e mesmo os não tão belos) vai se agregando ao resultado - sempre mutante - do que eu sou. Ficou mais fácil entender distância e saudade. Tornou-se mais compreensível o passar do tempo e a vastidão de coisas que a gente tem a aprender. E já que não se pode colecionar pessoas, vou guardando o que de melhor elas tenham me ensinado e me feito sentir. É a leveza que podemos ter.

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