quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Querida B.,

Escrevo-te por encontrar nas palavras a melhor forma de dizer-te algumas pequenas coisas que me chegaram em pensamento nos últimos dias. A começar pela falta que me fazes, mesmo nos dias em que sei da tua ausência pelo desencontro de horários e de obrigações. Faz-me falta encontrar-te num aposento qualquer para ao menos olhar-te e saber que estás ali, envolta em teus doces mistérios. Faz-me falta a troca de palavras e sorrir-te em seguida, ainda que sem motivo aparente. Faz-me falta a tua companhia pra banalidades cotidianas. Faz-me falta. Até o teu silêncio faz-me falta. No pouco tempo que te foste a viajar, foi o bastante para certificar-me de que tu és uma peça essencial no meu emaranhado de coisas importantes. Crescemos juntos em torno de uma cumplicidade que eu jamais poderei experimentar igual, sei bem disso. Ainda que não digamos tudo um ao outro, sabemos da confiança que existe entre os segredos que optamos compartilhar. Mesmo quando disputamos atenção ou méritos de qualquer natureza, temos nosso código de ética, nosso conjunto de valores que herdamos do mesmo berço e que cultivamos com afinco e com apreço. Por todos os desentendimentos e todos os abraços de reconciliação, eu sei que nada nos fará abandonar um ao outro. Eu sei. Já existe um elo, muito além do laço sanguíneo, que nos une e nos faz um pedaço só. Tornaste-te meu outro lado, minha parte paralela, uma espécie de ponto de equilíbrio, sobre a qual eu reinvento os passos pelos quais já passei. E sei da tua necessidade de independência. Sei dos teus jeitos ocultos, das tuas palavras descompassadas, da tua forma de arquitetar planos e sonhos. Aprendi a compreender-te em cada detalhe, investigando pele e coração, numa sintonia impossível de ser descrita. Moras ao lado de mim, dentro de mim, em tudo que eu sinto e vejo sentido. Não esqueças disto, minha neguinha, minha flor, minha menina: eu te amo todos os dias sem mesmo precisar dizer-te isso em palavras.

sou seu fado, sou seu bardo
se você quiser ouvir,
o seu eunuco, o seu soprano, um seu arauto
eu sou o sol da sua noite em claro, um rádio
eu sou pelo avesso sua pele, o seu casaco

Do teu irmão.

2 comentários:

  1. Antes mesmo de começar a ler,meu olhos ja encheram-se de lágrimas. Não existe palavras, agora, nesse momento, que demonstrem a minha emoção ao ler isso. E o que me resta é dizer que EU TE AMO MUITO e não consigo viver sem você!
    beijo da tua "neguinha".
    estou sentindo muita sua falta.

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  2. Ai ai... e tem como não se emocionar?!
    (Posso admitir que senti até um poquinho de inveja?!)
    É tão, tão lindo ver alguém que não apenas sinta, mas em algum momento escreva e consiga transcrever tão belamente esses sentimentos.
    Como amante das palavras, as vezes sinto falta de ler algo assim pra mim.

    É bom ver a amizade que vai além do sangue!
    Que Deus abençoe! (Amém!)

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