Mostrando postagens com marcador três. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador três. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Errei pela primeira vez quando me pediu a palavra amor, e eu neguei. Mentindo e blefando no jogo de não conceder poderes excessivos, quando o único jogo acertado seria não jogar: neguei e errei. Todo atento para não errar, errava cada vez mais. Mas durante as ausências, olhando então para cima e abrindo aboca, recebia em cheio na garganta as gotas de mel do jarro de lata que aquele anjo pálido trazia ao ombro. Embora me recusasse a ver que o anjo parecia cada vez mais sombrio. Incapaz de perceber que em seu leve sorriso, bem no canto da boca, começava a surgir uma marca de sarcasmo, feito um tique cruel.
Infinitamente Pessoal, Caio Fernando Abreu

domingo, 16 de janeiro de 2011

over futile odds
and laughed at by the gods
and now the final frame
love is a losing game
Amy Winehouse

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011


Comecei a escrever num meio que me impelia fortemente ao pudor. Escrever, para eles, ainda era moral. Escrever, agora, é muitas vezes como se não fosse mais nada. Às vezes sei disto: que a partir do momento em que não é mais, todas as coisas confundidas, ir ao sabor da vaidade e do vento, escrever não é nada. Que a partir do momento em que não é, a cada vez, todas as coisas confundidas numa só por essência indefinível, escrever não é nada senão publicidade. Mas na maioria das vezes não tenho opinião, vejo que todos os campos estão abertos, que não haveria mais muros, que a escrita não teria mais onde se esconder, onde ser feita, onde ser lida, que sua inconveniência fundamental não seria mais respeitada, mas não vou muito além.

Marguerite Duras
O amante

domingo, 19 de dezembro de 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

domingo, 28 de novembro de 2010

Foi num cabaré na Lapa
Que eu conheci você
Fumando cigarro, entornando champanhe no seu soirée
Dançamos um samba, trocamos um tango por uma palestra
Só saímos de lá meia hora depois de descer a orquestra
Dama do Cabaré
Noel Rosa

segunda-feira, 22 de novembro de 2010


Eu soube naquele momento que não tinha necessidade de nenhum prazo para refletir; que teria saudades para sempre se a deixasse partir. Você foi a primeira mulher que consegui amar de corpo e alma, com quem eu me sentia em ressonância profunda; meu primeiro amor verdadeiro, para dizer tudo. Se eu fosse incapaz de amá-la de verdade, nunca poderia amar ninguém. Encontrei palavras que nunca soubera pronunciar; palavras para lhe dizer que eu queria que permanecêssemos juntos para sempre.
Carta a D.
André Gorz


quinta-feira, 18 de novembro de 2010


Voltei ao livro e senti as palavras fugirem-me diante do olhar. As palavras, nervosas, agitavam-se como se quisessem sair da página e desaparecer numa liberdade de palavras evadidas no céu. Baixei o livro e olhei para a frente. A montanha diante de mim, a paisagem toda, os últimos pássaros, o jardim e as ervas, tudo continuava na mesma. Fechei o livro com um dedo a marcar a página e vi que era o livro inteiro que tremia. Aquele livro estivera, durante anos, na biblioteca. A sua lombada azul estivera na segunda prateleira, logo em frente da porta, durante anos. A sua lombada azul estivera durante anos entre livros de lombadas vermelhas. Quando eu era pequeno e brincava com os meus carrinhos, arrastava-o pelas prateleiras, que eram auto-estradas, e dos livros, que eram casas altas, aquele livro de lombada azul era sempre a minha casa. Eu segurava o meu carrinho entre o indicador e o polegar e levava-o até à minha casa que era aquele livro de lombada azul, estacionava ao lado das outras casas vermelhas e, na minha imaginação, entrava em casa, ficava a dormir numa noite que passava em segundos e voltava a entrar no meu carrinho e voltava a conduzi-lo pelas auto-estradas das prateleiras. Era esse livro que tremia na minha mão. José Luís Peixoto.